Sou de um tempo, e não faz tanto tempo assim, em que as mensagens mais importantes chegavam por cartas, pelos correios.
Telegramas eram raros, muito caros e só se encaminhavam por meio de uma agência dos Correios. Telefone fixo era privilégio de poucos, pois uma linha telefônica chegava a custar o valor de um carro.
Celulares, nem em sonhos, muito menos as correspondências eletrônicas. Mas os Correios funcionavam muito bem. Bons tempos, aqueles em que o correio prestava um bom serviço.

A carta tradicional era encaminhada em um envelope comprado nas livrarias ou bodegas do interior. Eram envelopes com as bordas decoradas por faixas transversais verdes e amarelas, as cores do Brasil. Na frente estava impresso: “remetente”, para você se identificar, e no verso: “destinatário”.

Quem não se lembra da atriz Fernanda Montenegro, protagonista do filme “Central do Brasil”, escrevendo cartas para as famílias dos imigrantes analfabetos – único meio dessas pessoas mandarem notícias aos seus entes queridos – literalmente abandonados nos mais distantes rincões desse imenso Brasil?

A correspondência, como se sabe, goza de proteção constitucional quanto ao sigilo. A inviolabilidade da correspondência sempre foi respeitada no Brasil e a quebra dessa regra constitucional pode gerar um processo judicial e, consequentemente, uma pesada indenização por danos morais.

Mas nos dias atuais a velha cartinha já não tem mais espaço, tampouco serventia. Os tempos mudaram e as pessoas também. As mensagens agora são enviadas eletronicamente e os conteúdos nem se comparam com a seriedade dos tempos da velha carta de amor, de saudade, de negócios ou de despedida.

Lamentavelmente muitas pessoas estão fazendo mau uso da tecnologia e da facilidade da comunicação. Usa-se as redes sociais indevidamente e, muitas vezes, até criminalmente. Um instrumento tão poderoso como esse, que deveria ser usado apenas para fazer o bem, tem sido utilizado por alguns desocupados para extravasarem suas frustrações e por alguns criminosos para fazerem ainda pior.

Presenciamos estarrecidos, recentemente, as sarcásticas declarações de um sequestrador, que, ao ser preso, disse textualmente à imprensa que todas as informações que obteve da vítima e da sua família, havia conseguido por meio das redes sociais.
Não podemos deixar a máquina dominar o homem. Você dirige e controla o seu carro e não o contrário. Cuide-se. Como disse Charles Chaplin em “O último discurso”: “Não sois máquinas, homens é que sois”. Não entregue aos bandidos o sagrado direito ao sigilo e a pureza da sua intimidade. Negue-se a encaminhar correspondências abertas a destinatários incertos ou desconhecidos.

Nem tudo está perdido. O bem sempre vai superar o mal. Os avanços tecnológicos devem ser comemorados e bem aproveitados. Mas nessa ciranda diária da comunicação, veloz e acessível a todos, cabe, tanto aos remetentes, como aos destinatários, serem mais seletivos, principalmente com os conteúdos, descartando incontinentemente tudo aquilo que considerar nocivo, impróprio ou imprestável. Recicle o lixo da sua rede.

Por: José Braz da Silveira